DSM-5 Schizoaffective disorder: will clinical utility be enhanced?

resumo Desde sua primeira descrição, A doença esquizoafetiva sofreu variações quanto à sua forma de caracterização, o que influenciou sua relevância, aplicabilidade, validade e impacto na prática clínica. Hoje em dia há uma discussão em torno do diagnóstico do transtorno esquizoafetivo, sustentada na evidência de sua escassa confiabilidade e estabilidade temporal. Para compreender este debate é necessário deter-se sobre propostas atuais que afetam de maneira transversal este diagnóstico, como o lugar dos manuais diagnósticos operacionais, as concepções psicopatológicas das psicoses crônicas e agudas, a determinação da confiabilidade dos diagnósticos realizados, a presença de distúrbios longitudinais e transversais e a variedade de posições nosográficas. Neste caso, decide-se realizar uma revisão narrativa sobre o surgimento e a história do transtorno esquizoafetivo, detalhando os pontos de discussão atuais e propondo possíveis alternativas para abordar esta problemática. Palabras clave transtorno esquizoafetivo nosografia validade diagnóstico psicopatologia teoria órgão-dinâmica Summary Ever since its first description, schizoaffective disorder has undergone variations in its characterization which have had an influence on its relevance, applicability, validity and impact in clinical practice. Atualmente, há uma discussão sobre o diagnóstico de transtorno esquizoafetivo, com base na evidência de sua confiabilidade limitada e estabilidade temporal. Para compreender este debate é necessário analisar as questões presentes que afetam transversalmente este diagnóstico, tais como a importância dos manuais de diagnóstico operacional, a psicopatologia da psicose crônica e aguda, a determinação da confiabilidade do diagnóstico anterior, transtornos longitudinais e transversais e diferentes teorias nosográficas. Authors make a narrative revision regarding the emergence and history of schizoaffective disorder, pointing out current discussions and suggesting possible alternatives when addressing this problem. Key words schizoaffective disorder nosography validity diagnosis psychopathology organodynamic theory Rev Psiquiatr Urug 2019; 83(1):20-32 revisão S. Lema, R. Almada|Revista de Psiquiatria del Uruguay|volume 83 Nº 1 Outubro 2019|página 21 Introdução o diagnóstico na medicina é um processo de grande importância; em Psiquiatria, adquire uma particular complexidade. O diagnóstico em medicina em geral é um processo pelo qual se tenta submeter a verificação científica a hipótese da per-Tenência de determinadas manifestações clínicas observadas em um paciente a uma classe ou a uma dimensão, dentro de uma determinada classificação de referência. 1 as obras históricas como as de P. Laín Entralgo evidenciam que o substrato sólido da medicina em sua evolução tem sido a objetivação progressiva de formas clínicas típicas. 2 a identificação de formas clínicas e seu diagnóstico têm sido fundamentados principalmente na nosologia, a qual é a ligação entre as formas clínicas sindromáticas e sua base patológica. Em muitos ramos da medicina, a evolução da nosografia e das classificações deu-se em consonância com a evolução do desenvolvimento biotecnológico, que permitiu discernir com maior precisão a base fisiopatológica das entidades clínicas. Em Psiquiatria subsiste, no entanto, o problema da distância existente entre as manifestações psicopatológicas e sua base, 3 Distância que implica que o processo de identificação de formas clínicas típicas se encontre menos influenciado pelo conhecimento que se vai gerando ao nível da base fisio-patológica de índole neurobiológica. Essas características determinamas e vindas quanto à identificação e deno-minação das patologias, bem como quanto às classificações de uso. Este processo tem sido influenciado ao longo do tempo, assim como outro conjunto de fundamentos conceptuais, pela existência de corpos doutrinais e marcos teóricos que adotam posições de domínio ou de maior influência relativa. Assim, por exemplo, Casarotti aponta que “a análise histórica também revela que essa objetivação das formas clínicas com suas regras diagnósticas e prognósticas guarda estreita relação e é inseparável dos mutáveis contextos da teorização e da praxis que caracterizam cada etapa”. 2 a noção de descontinuidade subjacente a tais “as e vindas “contrapõe-se a uma ideia positivista de desenvolvimento constante, homogêneo, unidirecional e de acumulação e melhoria do conhecimento, segundo o qual poderia presumir-se que” o último é o mais verdadeiro”, noção que é questionada pela análise histórica da disciplina. 4 segundo uma análise esquemática pode-se notar que ao longo da história as classi-ficações em Psiquiatria foram guiadas primeiro pela busca de formas clínicas que refletissem a existência de processos etiológicos identificáveis, no primeiro século da disciplina. Então, com Kraepelin fundamentalmente, classificações com base na descrição clínica observável e sua evolução; mais tarde, a partir de Bleuler, pela identificação e descrição dos processos psicopatológicos subjacentes, até que no último período tenham predomi-nado as classificações criteriológicas que, mediante a utilização de critérios claros, simples e objetivos, visam a descrição sindromática dos quadros clínicos que constituíssem diagnósticos confiáveis, evitando as referências etiológicas e psicopatológicas. 1 é em referência a este último marco teórico que obteve notoriedade na nosografia psiquiátrica o transtorno esquizoafetivo. Nosso objetivo neste caso é apresentar as principais discussões em torno da validade e utilidade desta categoria nosográfica. Metodologia para a realização deste trabalho utilizou-se uma combinação de métodos incluindo uma busca de atualização, em conjunto com a utilização seletiva de autores de relevância como fonte. Para a primeira utilizaram-se os descritores “transtorno esquizoafetivo”, “diagnóstico” e “revisão” nas bases de dados Scielo e Google Scholar, tanto em inglês como espanhol, selecionando entre os resul-tados obtidos aqueles que resultassem Mais revisão página 22|volume 83 Nº 1 Outubro 2019|Revista de Psiquiatria do Uruguai|transtorno esquizoafetivo: um diagnóstico controverso informativo. O trabalho constitui revisão narrativa. Transtorno esquizoafetivo os manuais diagnósticos atuais compreendem a realidade da presença de pacientes que apresentam uma sobreposição de “sintomas esquizofrênicos” e “reações afetivas”, atribuindo-lhes um lugar particular que os discrimina de outras categorias. O lugar do transtorno esquizoafetivo variou em seus critérios diagnósticos e em sua concepção. Considerando o manual diagnóstico e Estatístico de transtornos mentais (DSM) em um início, considerou-se esta apresentação clínica como um subtipo dentro da esquizo-frenia: DSM-I: reação esquizofrênica, tipo esquizoafetivo; DSM-II: esquizofrenia, tipo esquizoafetivo excitado e depressivo. Então, na versão de 1980, o DSM-III estabelece o transtorno esquizoafetivo como uma entidade nosológica particular, mas é o único diagnóstico sem critérios operacionais explícitos. 5 na revisão do DSM-III-R estabelecem-se os critérios diagnósticos, que vão determinar uma diferença clara com a classificação inter-nacional de Doenças (CID), destacando-se que a remissão sintomática interepisódica e a melhor evolução não foram incluídas como critérios diagnósticos. As revisões a seguir não fizeram alterações significativas até o atual DSM-5. 6 embora o termo “psicose esquizoafetiva” tenha sido estabelecido por Jacob Kasanin em 1933, já existia a ideia de identificar um tipo de apresentação clínica que incluía os sintomas característicos da esquizofrenia, mas sem a evolução deteriorante clássica desta Pa-tologia (psicose esquizofreniforme, psicose cicloide, psicose reativa). Esta situação levou a diferentes concepções desta nova entidade nosológica, já que o modelo dicotó-mico estabelecido por Emil Kraepelin dividia as psicoses entre a esquizofrenia (dementia praecox) e transtornos do humor (psicose maníaco-depressiva), baseando-se em que estas categorias apresentavam uma etiologia, achados neuropatológicos e uma evolução particular. 7 como se depreende etimologicamente de seu nome, o transtorno esquizoafetivo sugere uma associação entre esquizofrenia e sintomas da esfera afetiva. 8 a descrição clínica feita por Jacob Kasanin centrou-se sobre pacientes com psicoses agudas que tiveram uma remissão completa no curto período de tempo. 7 nesta Descrição, Os nove casos considerados são descritos características singulares, atípicas, que se afastam dos critérios formais da esquizofrenia. São pacientes jovens, com adequado ajuste Social pré-mórbido e inteligência normal ou superior, que apresentam psicose de co-mienzo brusco, súbito, usualmente precedida por um estado de depressão latente e com o antecedente de um evento vital estressante significativo que atua como gatilho. Estes casos apresentaram uma compensação rápida e intensa e de duração limitada. Cursaram com instabilidade emocional, dis-torção da realidade e em alguns casos com presença de impressões sensoriais falsas. Eles se recuperaram rapidamente e evoluíram a longo prazo sem defeito. 9 a doença esquizoafetiva no entanto não adquire um lugar de notoriedade no uso dos psiquiatras, mas até sua designação como transtorno esquizoafetivo nos métodos categoriais criteriológicos. Apesar de sua permanência até as recentes edições, sempre foi uma entidade questionada e submetida à crítica. O DSM-III menciona sobre isso: “pesquisas futuras serão necessárias para determinar se existe a necessidade dessa categoria e, em caso afirmativo, como ela deve ser definida e qual é sua relação com esquizo-frenia e transtorno afetivo”, enquanto o DSM-IV reconhece as dificuldades em sua aplicabilidade: “a categoria preenche um buraco necessário e importante no sistema de diagnóstico, mas infelizmente não faz seu trabalho muito bem”. A discussão sobre a validade e utilidade deste diagnóstico pode ser organizada em vários pontos-chave. Revisão S. Lema, R. Almada / Revista de Psiquiatria do Uruguai / volume 83 Nº 1 Outubro 2019 / página 23 1. Problemas decorrentes da comparação das diferentes versões do DSM e da CIE

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